O médico Ribeiro Sanches produziu um inestimável trabalho de pesquisa e reflexão, marcado pela modernidade. A medicina, filosofia e pedagogia foram os temas mais explorados na sua obra. Descendente de cristãos-novos, aos 27 anos teve de se exilar, acusado da prática de judaísmo. Nunca mais regressou. Apesar disso, empenhou-se em fomentar mudanças estruturais em Portugal, como a abertura da Universidade portuguesa às correntes científicas e pedagógicas da Europa do seu tempo. “Foi instrumental para o desenvolvimento da medicina europeia”, diz Sobrinho Simões, director do IPATIMUP.Ribeiro Sanches nasceu em 7 de Março de 1699 em Penamacor, menos de dois anos antes de ter início o “século das luzes”, do Iluminismo - a época em que se desenvolveu a convicção do papel da razão e da ciência na explicação do universo. O médico, filósofo e pedagogo não ficou alheio a este movimento intelectual da 2.ª metade do século XVIII. O que é reforçado pelo facto que este descendente de cristãos-novos se viu obrigado a sair de Portugal em 1726, acusado da prática de judaísmo. Passa a viver e pesquisar nos principais centros de conhecimento europeus. Paris, primeiro; depois, Londres; e, finalmente, na Holanda, na Universidade de Leiden, onde vê o seu trabalho reconhecido e estimulado. Exerce a sua actividade no estrangeiro, mas pretende contrariar o atraso do País em inúmeras áreas. A contribuição de Ribeiro Sanches prende-se, sobretudo, com os avanços da medicina e da pedagogia. “Reino cadaveroso, arcaico e debilitado, embrenhado num profundo marasmo científico e cultural”, é a sua opinião sobre Portugal. A reforma desejada teria certamente de ser profunda e lenta. Começa a sua formação universitária em 1716, com incursões nos cursos de Direito e de Medicina da Universidade de Coimbra, que não termina. Três anos depois tem a sua primeira experiência académica fora do País, em Salamanca, onde faz o curso de Medicina e se doutorou. Considera que as universidades da Península Ibérica se restringem ao conhecimento conformista dos textos antigos, sem qualquer abertura para questioná-los. Chega a praticar medicina em Portugal, mas a actividade é interrompida pelo exílio. Acaba os estudos na Holanda, com o eminente Professor de Medicina Hermann Boerhaave, que o recomenda, em 1731, à corte imperial da Rússia. A imperatriz Ana Ivanovna recebe-o bem. Aqui permanecerá durante 16 anos, sendo nomeado médico dos exércitos russos em guerra com a Turquia, depois, da Academia dos Cadetes de Sampetersburgo e, finalmente, da própria imperatriz. De 1747 a 1783, o ano da sua morte, fixa-se em Paris. Trabalha, corresponde-se e é consultado pelos vultos do Iluminismo e da elite europeia. É o único português que colabora no projecto de Diderot e d’Alembert - “L’Encyclopédie”. Muito do rigoroso trabalho de pesquisa e reflexão que regista nos seus textos visa contribuir para a reforma das culturas científica e filosófica portuguesas, sobretudo em “Cartas sobre a Educação da Mocidade”, de 1760, e “Método para Aprender e Estudar a Medicina”, de 1763. Defende a laicização do ensino, o questionar da reverência à autoridade, a percepção de que os alunos não sairão definitivamente formados numa ciência, apenas com o conhecimento fundamental para prosseguirem depois a sua pesquisa pessoal. Advoga, sobretudo, que a universidade portuguesa se abra às correntes europeias. No caso da medicina, que dê oportunidade aos alunos de contactar com a teoria e prática médicas nas universidades e hospitais europeus. Evite que estes se fixem e limitem a uma única realidade. Antecipa a actualmente tão discutida Declaração de Bolonha, que procura, precisamente, a mobilidade dos estudantes da União Europeia, pelas universidades da Europa. Tendência pioneira que não se verifica em todos os campos da sua reflexão elitista, à semelhança de outros intelectuais da época, Ribeiro Sanches recusa a democratização do ensino. Para ele, só a elite pode ser iluminada. Caso contrário, a organização e a estrutura da sociedade, tal como são conhecidas, correm o risco de vacilar. Tal particularidade do seu pensamento não invalida a sua inestimável e pioneira investigação. Manuel Sobrinho Simões, director do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), salienta: “Ribeiro Sanches e muitos médicos judeus portugueses são os primeiros na cultura ocidental que introduzem noções tão simples como ver os doentes. Os médicos não mexiam nos doentes. Quem mexia nos doentes, eram os cirurgiões.”
sábado, 29 de dezembro de 2007
Ribeiro Sanches - Um "estrangeirado" Iluminado
O médico Ribeiro Sanches produziu um inestimável trabalho de pesquisa e reflexão, marcado pela modernidade. A medicina, filosofia e pedagogia foram os temas mais explorados na sua obra. Descendente de cristãos-novos, aos 27 anos teve de se exilar, acusado da prática de judaísmo. Nunca mais regressou. Apesar disso, empenhou-se em fomentar mudanças estruturais em Portugal, como a abertura da Universidade portuguesa às correntes científicas e pedagógicas da Europa do seu tempo. “Foi instrumental para o desenvolvimento da medicina europeia”, diz Sobrinho Simões, director do IPATIMUP.Ribeiro Sanches nasceu em 7 de Março de 1699 em Penamacor, menos de dois anos antes de ter início o “século das luzes”, do Iluminismo - a época em que se desenvolveu a convicção do papel da razão e da ciência na explicação do universo. O médico, filósofo e pedagogo não ficou alheio a este movimento intelectual da 2.ª metade do século XVIII. O que é reforçado pelo facto que este descendente de cristãos-novos se viu obrigado a sair de Portugal em 1726, acusado da prática de judaísmo. Passa a viver e pesquisar nos principais centros de conhecimento europeus. Paris, primeiro; depois, Londres; e, finalmente, na Holanda, na Universidade de Leiden, onde vê o seu trabalho reconhecido e estimulado. Exerce a sua actividade no estrangeiro, mas pretende contrariar o atraso do País em inúmeras áreas. A contribuição de Ribeiro Sanches prende-se, sobretudo, com os avanços da medicina e da pedagogia. “Reino cadaveroso, arcaico e debilitado, embrenhado num profundo marasmo científico e cultural”, é a sua opinião sobre Portugal. A reforma desejada teria certamente de ser profunda e lenta. Começa a sua formação universitária em 1716, com incursões nos cursos de Direito e de Medicina da Universidade de Coimbra, que não termina. Três anos depois tem a sua primeira experiência académica fora do País, em Salamanca, onde faz o curso de Medicina e se doutorou. Considera que as universidades da Península Ibérica se restringem ao conhecimento conformista dos textos antigos, sem qualquer abertura para questioná-los. Chega a praticar medicina em Portugal, mas a actividade é interrompida pelo exílio. Acaba os estudos na Holanda, com o eminente Professor de Medicina Hermann Boerhaave, que o recomenda, em 1731, à corte imperial da Rússia. A imperatriz Ana Ivanovna recebe-o bem. Aqui permanecerá durante 16 anos, sendo nomeado médico dos exércitos russos em guerra com a Turquia, depois, da Academia dos Cadetes de Sampetersburgo e, finalmente, da própria imperatriz. De 1747 a 1783, o ano da sua morte, fixa-se em Paris. Trabalha, corresponde-se e é consultado pelos vultos do Iluminismo e da elite europeia. É o único português que colabora no projecto de Diderot e d’Alembert - “L’Encyclopédie”. Muito do rigoroso trabalho de pesquisa e reflexão que regista nos seus textos visa contribuir para a reforma das culturas científica e filosófica portuguesas, sobretudo em “Cartas sobre a Educação da Mocidade”, de 1760, e “Método para Aprender e Estudar a Medicina”, de 1763. Defende a laicização do ensino, o questionar da reverência à autoridade, a percepção de que os alunos não sairão definitivamente formados numa ciência, apenas com o conhecimento fundamental para prosseguirem depois a sua pesquisa pessoal. Advoga, sobretudo, que a universidade portuguesa se abra às correntes europeias. No caso da medicina, que dê oportunidade aos alunos de contactar com a teoria e prática médicas nas universidades e hospitais europeus. Evite que estes se fixem e limitem a uma única realidade. Antecipa a actualmente tão discutida Declaração de Bolonha, que procura, precisamente, a mobilidade dos estudantes da União Europeia, pelas universidades da Europa. Tendência pioneira que não se verifica em todos os campos da sua reflexão elitista, à semelhança de outros intelectuais da época, Ribeiro Sanches recusa a democratização do ensino. Para ele, só a elite pode ser iluminada. Caso contrário, a organização e a estrutura da sociedade, tal como são conhecidas, correm o risco de vacilar. Tal particularidade do seu pensamento não invalida a sua inestimável e pioneira investigação. Manuel Sobrinho Simões, director do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), salienta: “Ribeiro Sanches e muitos médicos judeus portugueses são os primeiros na cultura ocidental que introduzem noções tão simples como ver os doentes. Os médicos não mexiam nos doentes. Quem mexia nos doentes, eram os cirurgiões.”
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2 comentários:
Passei só para deixar a marca do ESQUILO do sotralha,
EHEHEHEHEHEHEHE
;)
Boas festas e BOM ANO 2008
Então, Carlos, não escrevemos mias nada?
Um abraço, Armando (não me esqueci do teu aniversário, só não te disse nada:)
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